Bitcoin

O que são criptomoedas e como funcionam

Autor: Rodrigo Gomes de Paula

As criptomoedas vêm se tornando cada vez mais populares e não param de conquistar espaço! Esse artigo é para que você saiba o mínimo sobre criptomoedas, entenda como funcionam, seus principais riscos e que você não se sinta perdido (a). Quem sabe você não se interessa e decida aprender mais sobre esse mundo encantador das moedas digitais?!

Uma pesquisa recente da CNBC mostrou que, a cada dez investidores americanos, pelo menos um investe em criptomoedas.

Esse assunto tem recebido cada vez mais holofotes em 2021 e não é para menos:

  • Em abril, o bitcoin atingiu seu topo histórico de mais de 64 mil dólares por unidade.
  • Ainda em abril, o primeiro ETF[1] de criptomoedas do Brasil o HASH11, estreou na B3.
  • Em julho, o primeiro ETF de bitcoin da América Latina, o QBTC11, estreou na B3.
  • Em agosto, outros dois ETFs estrearam na B3, o QETH11, de Ethereum, e o BITH11, também exposto 100% em BTC.

[1] ETF é uma sigla para Exchange Traded Funds. São fundos de investimento que vendem suas cotas na bolsa de valores como se fossem ações.

Por ser um ambiente muito novo, existem diversas oportunidades e chances de grandes retornos, mas lembre-se: grandes retornos significam grandes riscos.

O que são criptos?

Criptomoedas – ou criptos para os íntimos, são uma forma de dinheiro digital. Por mais que o nome pareça comum, elas são completamente diferentes dos números que aparecem em sua conta bancária ou do dinheiro que você envia por PIX.

Elas são completamente digitais: Isso significa que não existe uma contraparte física. Os reais que temos em nossas contas nos bancos podem ser sacados e podemos segurar as notas em nossas mãos. No entanto, você nunca segurará um bitcoin, por exemplo, em suas mãos. Essas moedas existem de forma estritamente digital.

Como as criptomoedas têm valor?

Você deve estar pensando: Se essas moedas são puramente digitais, sem contraparte física, como elas podem ter algum valor? Como pode um bitcoin valer 30, 40 ou 50 mil dólares?

Qualquer coisa tem valor pela mesma razão: porque alguém quer. Se existe alguém para comprar, haverá alguém pra vender e, portanto, ela tem valor. Mas por que alguém iria querer dinheiro digital? Existem várias razões:

  1. O jeito mais fácil de transferir valor: Criptos são de longe o jeito mais fácil, rápido, prático, barato e seguro de transferir dinheiro entre indivíduos ao redor do mundo. Você pode fazer uma transação do Brasil para o Japão em questão de segundos, sem impostos ou taxas.
  2. Privacidade: As criptos são um meio de transferência de valores sem a necessidade de um intermédio. Hoje em dia, se João quiser transferir uma quantia para Maria, a transação percorre vários brancos e passa por dentro dos registros do Sistema Financeiro Nacional. Com criptos, não há intermediário, ou seja, João conseguiria transferir qualquer quantia diretamente para Maria anonimamente, sem usar bancos ou terceiros que coletem suas informações.

  3. Inovação. Muitos ambientes criptos, como a rede Ethereum e Cardano, são espaços não só para transações monetárias, mas para o desenvolvimento e aplicação de novas tecnologias. Muitos acreditam que o futuro dos mundos jurídico e financeiro está nessas redes e nas finanças descentralizadas.

4. Proteção contra governos. Se você mora na América Latina, sabe que os governos por aqui têm o infeliz hábito de serem monetariamente aventureiros e populistas. O Brasil teve 10 moedas diferentes só no século passado, cada uma com uma dezena de problemas. Até o real, a melhor dos últimos tempos, perdeu 85% de seu valor desde sua criação. Isso significa que 100 reais em 1994 hoje valem apenas 15 reais. Até o todo poderoso dólar perdeu 90% de seu valor desde 1913. Isso é causado pela inflação, que perpetua a perda do poder de compra das moedas.

Muitos enxergam as criptomoedas como forma de proteção contra a destruição constante do poder de compra que os governos proporcionam, já que elas não são controladas por governo nenhum. Então, enquanto as moedas governamentais caem, as criptos sobem.

Como as criptos funcionam?

Uma parte importante do porquê as moedas digitais têm valor é o modo como elas funcionam, mas é aqui que as coisas começam a ficar um pouco mais complicadas, porque cada criptomoeda é completamente diferente. Porém, há uma coisa que todas têm em comum: são asseguradas por criptografia.

Em outras palavras, as moedas digitais não são governadas por leis, mas por código. Felizmente, as melhores criptos têm o chamado código aberto, que é um tipo de código de computador que toda e qualquer pessoa pode checar e verificar. É daí que vem o maior ditado cripto: “não confie, verifique”.

As moedas dos governos são centralizadas e funcionam na base da confiança. É preciso confiar que o governo, dono da moeda, não vai fazer algo ruim com ela, como inflacionar ou confiscar. Se você tem mais de 25 anos, sabe que os governos não são muito confiáveis em nenhum desses aspectos.

Por outro lado, não é preciso “confiar” nas moedas digitais, pois seu funcionamento é garantido através de códigos de computador checados por dezenas de milhares de pessoas todos os dias. Além disso, elas são impossíveis de serem confiscadas se estiverem em uma carteira. A única pessoa que pode acessá-las é o dono das senhas. No entanto, por mais que todas as criptos tenham suas bases em códigos de computador, cada código é distinto e se propõe a fazer coisas diferentes. Existem literalmente milhares de criptos no mercado, e abaixo traremos um resumo das propostas das três maiores moedas digitais:

Bitcoin (BTC)

Foi a primeira cripto lançada e estreou em janeiro de 2009, após a famosa crise de 2008. Ninguém sabe quem criou o bitcoin e isso é uma das características mais preciosas dessa moeda.

A proposta do bitcoin é ser um sistema de pagamento eletrônico entre pares, ou seja, sem intermédio de bancos ou governos. É possível enviar moedas para qualquer lugar do mundo, e tudo que você precisa é uma conexão com a internet.

Como o bitcoin não tem um “dono”, isso faz dele uma moeda totalmente descentralizada, o que significa que ninguém, nenhuma pessoa ou governo, pode mudar o código do bitcoin. Essa característica faz dela uma moeda bastante confiável, segura e previsível.

Um dos acontecimentos recentes mais notórios ocorreu em setembro de 2021, quando o país latino-americano El Salvador adotou o bitcoin como uma de suas moedas oficiais, junto ao dólar.

Ethereum (ETH)

Lançada em 2013, essa é a segunda maior moeda digital em valor de mercado e é controlada pela Ethereum Foundation.

Diferente do bitcoin, o ethereum não tem a pretensão de ser um sistema de pagamentos, mas sim um ambiente de desenvolvimento.

Em sua rede, o ethereum permite o desenvolvimento de negócios, contratos inteligentes e vários tipos de aplicações financeiras descentralizadas, chamadas de DeFi (sigla para decentralized finance), além de jogos e todo tipo de aplicativo descentralizado que você puder imaginar.

Muitos acreditam que o futuro do mercado financeiro (empréstimos, contratos, locações, etc) está na rede ethereum.

Cardano (ADA)

É a terceira maior moeda e foi lançada em 2017. É uma concorrente direta do ethereum e se propõe às mesmas coisas. Ela foi fundada por um co-criador da rede ethereum que se desligou do projeto e decidiu criar o seu próprio.

A maior diferença é que a rede cardano se propõe a ser sustentável e tem focado no desenvolvimento de aplicações voltadas ao mundo acadêmico.

Além disso, a equipe de desenvolvimento da cardano vem tentando trabalhar de perto com governos da África a fim de desenvolver soluções descentralizadas de larga escala.

Como comprar criptomoedas?

Apesar de parecer assustador, o ambiente das criptos é bem fácil de ser acessado. O que você precisa para começar a comprar criptos é uma conta em uma exchange de criptomoedas. As duas maiores do Brasil são a Mercado Bitcoin e a BitcoinTrade.

Apesar dos nomes, você pode comprar diversas criptos nessas corretoras; não só bitcoin.

É possível efetuar a compra em apenas cinco passos passos:

  1. Criar a conta na exchange;
  2. Transferir reais para a nova conta;
  3. Escolher qual moeda você quer comprar;
  4. Abrir uma ordem de compra;
  5. Esperar a ordem ser executada.

Pronto! Agora você tem uma criptomoeda. O ideal é não deixar suas criptos na exchange, pois já houve casos de exchanges sendo hackeadas e seus usuários perderem suas moedas. O ideal é guardar suas moedas em uma carteira digital[2]


[2] Criptomoedas são guardadas em carteiras digitais que podem ser totalmente online ou físicas. Isso merece um artigo a parte.

Riscos

Como sempre, nem tudo são flores. Por serem relativamente novas e estarem em constante desenvolvimento, as moedas digitais trazem muitos riscos para quem investe. Preste muita atenção em alguns dos principais:

  • Sem garantias. Não existem empresas, governos ou um FGC por trás. Se você comprou uma criptomoeda ruim ou fez um mau negócio em finanças descentralizadas, você pode muito bem perder todo o seu dinheiro num piscar de olhos, e não terá para quem ligar. Não existe uma central de reclamação. Se você perder, perdeu. Só restará “sentar e chorar”.

  • Sem segunda chance. Todas as transações efetuadas por criptomoedas são irreversíveis. Se por acaso, você fizer uma transferência para a carteira errada, não há para quem ligar. Se você perder acesso à sua carteira (esquecer a senha), você perdeu aqueles valores para sempre. Estima-se que cerca de 3 milhões de bitcoins (141 bilhões de dólares) foram perdidos para sempre por pessoas que simplesmente esqueceram as senhas de suas carteiras.
  • Sem rendimentos. Criptomoedas não são ações. Portanto, não oferecem nenhum pagamento de dividendos, e nenhum “rendimento”. Qualquer pessoa que te prometa “rendimento” ao investir em criptomoedas está tentando te enganar.  Moedas digitais podem apenas se valorizar ou desvalorizar com o tempo, mas nunca “renderão” nada. Nesse sentido, a compra de criptos se assemelha bastante à compra de outras moedas, como o dólar.
  • Sem regularidade. O mercado de criptomoedas é muito volátil. Nos mercados tradicionais de ações e renda fixa, variações de 1 ou 2% são muito comuns e se acontecer de algo subir ou cair 5% ao longo de uma semana, haverão notícias nos jornais de que algo “decolou” ou “despencou”.

No mercado cripto, variações de 10 ou 12% em algumas horas é algo extremamente comum e correções de 50% são rotineiras em algumas épocas do ano. Isso significa que você pode colocar mil reais em alguma cripto e ver esse valor se transformar em 2 mil no fim da semana e depois cair para 800 na semana seguinte. Quanto menos conhecida é a moeda, maior a volatilidade.

Conclusão

O mundo das moedas digitais é promissor e cheio de possibilidades, porém bastante arriscado. Você não precisa ficar afoito e cheio de entusiasmo, nem tremer de medo e nunca chegar perto. O ideal é ir aprendendo aos poucos. Coloque 100 reais em bitcoin, transfira para lá e pra cá, veja subir, depois cair, para que perceba como se sente. Para entrar nesse mundo é preciso se conhecer principalmente na parte emocional para não tomar decisões ruins. Todos que estão neste mercado, sem exceção, passaram por isso (inclusive eu).

Por ora, invista em conhecimento. O YouTube está cheio de conteúdos simples e esclarecedores sobre esse mundo, como o canal UseCripto da Carol e da Kaká. Vá devagar, foque nas moedas maiores, principalmente bitcoin, que é mais consolidada e depois, conforme for aprendendo mais, aumente suas aventuras.

Vá com muita calma e cuidado, porque esse mercado está cheio de pilantras tentando te enganar e fazer promessas para pegar o seu dinheiro. No mundo cripto, você está só. Você não enriquecerá da noite para o dia, mas poderá ficar pobre em algumas horas se achar que sabe tudo. Qualquer coisa que pareça boa demais para ser verdade, provavelmente é boa demais para ser verdade.

Sobre o autor: Rodrigo é voluntário da Bem Gasto, professor de inglês, tradutor e gosta de estudar economia e programação.

Deixar uma resposta