Foto de uma pessoa olhando um site de compras em seu telefone móvel.

Como você se relaciona com sua vida financeira?

Autora : Elaine Leder

Todos sabemos que o autoconhecimento facilita o nosso movimento de desenvolvimento e crescimento. E isso não é diferente quando falamos da nossa relação com o dinheiro e consumo. Não estou falando aqui do perfil do investidor, ou seja, arrojado, moderado e conservador -esse trata da sua propensão ao risco ao investir o dinheiro. Aqui falo do modo como nos relacionamos com o dinheiro e do consumo no dia a dia.

Desde a década de 80 alguns estudiosos, como Gilles Valence, Faber e O´Guinn e Richmond, elaboraram questionários para identificar o grau de compulsividade de consumo uma pessoa. Pessoas que apresentem grau elevado em compras compulsivas possuem um distúrbio que se caracteriza por um excesso de pensamentos e comportamentos de compra, que leva a angústia ou deficiências, chamado oniomania – que deve ser tratado por profissionais da saúde mental. No entanto, esse é apenas um dos aspectos relacionados ao espectro de comportamento das pessoas em relação ao dinheiro e ao consumo.

Perfis de consumo compulsivo

A procura de outros autores que pudessem ampliar ou complementar os estudiosos dos perfis de consumo compulsivo, encontrei o Jordan E. Goodman, que escreveu o livro “Descubra sua Personalidade Financeira”. Neste, Goodman traz o conceito de seis diferentes perfis:

“Os batalhadores”:

Se revelam grandes empreendedores, dispostos a investir em novas ideias e em si mesmos. Porém, gostam de aparentar status e podem entrar em apuros com gastos excessivos em relação a sua renda, o que pode deixá-los no caminho do endividamento. Por outro lado, são os mais capazes em enfrentar o desafio de controlar o dinheiro quando necessário, aprender a poupar dinheiro para o futuro e fazê-lo multiplicar.

Dica Bem Gasto: Pare e anote todas as suas receitas e despesas. Corte os supérfluos, elimine dívidas e após se reequilibrar passe a separar parte da receita para investimentos de curto, médio e longo prazos.

“Os avestruzes”:

Definem-se como pessoas constrangidas pelo dinheiro, tendo orgulho da indiferença que têm por ele. Isso não significa que não saiba ganhar dinheiro. Sente-se confuso e algumas vezes até zangado em como lida com suas finanças, acreditando que não é capaz de aprender a lidar com ela, o que não é verdade. Está sempre à espera de alguma fonte externa para salvá-lo, como ganhar na loteria ou uma herança, mas quando se vê capaz de dominar suas finanças, se sentirá motivado para controlá-la.

Dica Bem Gasto: Caso tenha dificuldade com o controle dos gastos e receitas, recorra a um familiar ou amigo para ajudá-lo inicialmente, mas depois tome as rédeas das suas finanças. Reconheça que você tem total responsabilidade sobre sua própria vida financeira, suas metas pessoais e o planejamento de seu futuro. Uma vez que comece a ver os resultados, esse controle passará a ser até prazeroso.

“Os endividados”:

Estão sempre no vermelho. São descontrolados com o consumo e gastos e acabam aumentando suas dívidas contraindo empréstimos e recorrendo a limites do cartão ou do cheque especial para pagar outras. Pode ocorrer por motivação de oniomania (“vício de comprar”) ou pela ocorrência de um evento como desemprego, depressão ou algo que desencadeie um desequilíbrio no balanço financeiro por um longo período.

Dica Bem Gasto: O primeiro passo para o endividado é não se desesperar e saber que a principal ferramenta que terá ao longo do processo será a paciência. Há que se levantar todas as dívidas, juros e prazos envolvidos em cada uma. Avaliar as dívidas que devem ser prioritariamente atacadas por oferecerem maiores riscos ao patrimônio, analisar se há possibilidade de negociação direta ou indireta através de feirões ou ainda se é viável trocar dívidas de juros altos por dívidas de juros mais baixos. Poderá levar um tempo, mas todos aqueles que realmente querem podem conseguir se recuperar e aprender a controlar e prosperar com suas finanças. É fortemente recomendado que o endividado seja acompanhado por um apoio psicológico no processo de saída dessa condição para uma condição de não endividado e tomar cuidado para não voltar a cair em novas armadilhas de gastos e consumo.

“Os comodistas”:

São organizados, responsáveis e voltados para estabilidade. É provável que tenha boas reservas e inclusive tenha feito planos para aposentadoria. Sua fraqueza pode estar no comodismo e em não aproveitar oportunidades de investimentos e serem otimistas em excesso. Alguns chegam a largar seus empregos para se aventurar no mundo de startups ou negócios e podem meter-se em apuros por acreditar que sempre alguma coisa ou alguém virá em seu socorro.

Dica Bem Gasto: Converse com alguém de sua confiança que possa explicar o funcionamento dos investimentos, incluindo riscos e tributos. Com essas informações poderá fazer melhores planejamentos financeiros para o futuro. Caso decida realizar mudanças radicais em sua profissão, avalie com muito cuidado os prós e contras e componha uma reserva que possa ser útil no caso da necessidade de redirecionamento de rota.

“Os grandes apostadores”:

Acha que é mais inteligente, mas rápido e mais astuto que todo mundo. Tende a ser encontrado nas mesas de jogo, apostando em um sonho para criar um negócio ou aplicando no mercado de ações com dinheiro emprestado. Porém, quando fazem tudo certo, os riscos que correm podem ser altamente compensadores, mas também podem se ver em apuros caso não tenham uma rede de segurança.  

Dica Bem Gasto: Realizar o controle de seus gastos e despesas, separando um determinado valor para saciar seus impulsos de correr riscos. Deve comprometer-se a não superar o limite determinado, reconhecendo que isso pode prejudicar a si e sua família. Pode buscar hobbies, esportes ou atividades não custosos que ocupe seu tempo e sua mente. Caso necessário, vale buscar um apoio psicológico para ajudar em equilibrar seus impulsos.

“Os esquilos”:

Possuem um medo secreto de perder tudo e acreditam que seus recursos nunca serão suficientes. São poupadores exagerados e não conseguem desfrutar de seus recursos. Não conseguem ter uma imagem equilibrada sobre a questão monetária e em alguns casos sequer entendem como podem estar perdendo dinheiro em função de deixar passar algumas oportunidades de investimentos.

Dica Bem Gasto: Assim como os Comodistas, converse com alguém de sua confiança que possa explicar o funcionamento dos investimentos, incluindo riscos e tributos. Comece com uma carteira de investimentos conservadora e vai testando, com valores baixos, investimentos mais arriscados. Caso se sinta confortável, crie carteiras de investimentos mais diversificadas e equilibradas, mirando curto, médio e longo prazos. Permita-se jantar fora, se presentear e viajar de vez em quando.

É claro que temos características de vários desses perfis de comportamento, mas todos temos um que é o predominante.  É possível mudar seu comportamento em busca de uma vida financeira equilibrada e saudável? Claro! Já foi cientificamente comprovado que somos capazes de reeducar nosso cérebro. Para isso, há de se fazer um esforço inicial na criação dos hábitos financeiros saudáveis e pensamentos positivos que após um tempo passarão a ser realizados de forma automática.

E você? Em qual perfil você acha que se encaixa hoje? Está preparado para caminhar para uma vida financeira saudável? Além das dicas acima, a Bem Gasto disponibiliza um material rico e completamente gratuito em nosso Blog (https://bemgasto.org/) para te ajudar nessa caminhada.

Fonte: GOODMAN, Jordan E.; Descubra sua personalidade financeira; Editora Best Seller; 2008.

Elaine Leder é engenheira de produção e mestre em administração. Trabalhou por mais de 25 anos na iniciativa privada nas áreas de logística e planejamento orçamentário. Em seu tempo livre gosta de ver filmes, ler livros e pintar seda. Desde 2021 é voluntária da Bem Gasto.

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