cérebro

Por que muitos têm dificuldade de se controlar financeiramente?

Autor: Igor Alfeza

Não gastar mais que recebe, usar cartão de crédito com sabedoria, investir e criar uma reserva de emergência, são alguns dos principais conselhos que diversos economistas espalham perante a sociedade. Parece ser um passo-a-passo bem simples e de fácil entendimento. Entretanto, não é a realidade da nossa sociedade. A dificuldade de se controlar financeiramente é um desafio presente para muitas famílias brasileiras.

Pensando nisso, diversos economistas estão ampliando os estudos para a psicologia. O objetivo é justamente entender as nossas motivações e como direcionamos a nossas decisões. Com esta necessidade, criou-se uma área de estudo que se chama “Economia Comportamental”. O norte americano Richard Thaler é um desses economistas que vêm direcionando esforços para melhorar este entendimento. Inclusive, em 2017, Thaler ganhou o Prêmio Nobel da Economia “por suas contribuições para a economia comportamental”.

Como resultado de suas pesquisas, Richard reafirma que os seres humanos são mais emotivos do que racionais. Por isso, fazer boas escolhas pensando no longo prazo não conversa diretamente com as necessidades deste nosso cérebro emotivo. Entender a nossa evolução e história é de grande importância para evoluirmos nosso entendimento e de romper com esta dificuldade de se controlar financeiramente.

Como nosso cérebro funciona?

A nossa espécie, Homo Sapiens, tem aproximadamente 150 mil anos de idade. Cerca de 4 mil anos atrás começamos a parar de ser nômades e começamos a fixar em lugares estratégicos para a nossa sobrevivência. Como consequência, começamos a construir as grandes civilizações.

Vamos fazer uma conta? 4 mil anos representa somente 2,7% de toda a nossa existência. Sabe por que eu trouxe estes números? Quem controla nossa energia é o nosso cérebro primitivo, que é inconsciente e foi programado para sobreviver e se multiplicar na savana africana.

Nosso organismo tem em seu DNA uma estratégia de sobrevivência que é muito forte: economizar energia. Naquela época, não tinha como pedir delivery de comida ou subir em um carro e ir ao Drive Thru de um fast food. Não conseguíamos saber quando teríamos comida e nem a quantidade/qualidade dela. Por isso, nosso corpo é todo otimizado para ser o mais eficiente possível, usando pouca energia para deixar tudo funcionando, gastar somente para fugir ou se defender de predadores, buscar mais energia através da alimentação e para se acasalar. São milhares de anos de evolução de muitos erros e acertos para conseguir ser o mais eficiente possível.

Nessa época não tínhamos que fazer grandes contas matemáticas e nem dificuldade de se controlar financeiramente.

Contabilidade Mental: o viés que nos descontrola financeiramente

Com todas essas situações, nosso cérebro criou um sistema de decisões rápidas, o qual nomeamos de Vieses Cognitivos. Neste sistema, ele se utiliza de padrões e poucos estímulos para poder tomar uma decisão rápida, sem a necessidade de gastar mais energia do que a necessária para isso. Obviamente, este sistema cumpre o seu objetivo de sobrevivência. Porém, quando trazemos para o consciente e temos pensamentos de longo prazo, essas decisões não parecem nada legais. Um destes atalhos que conversa diretamente em como gerimos nossos recursos (dinheiro) é a Contabilidade Mental.

Neste viés da contabilidade mental, nós tenderemos a tomar decisões baseadas em contas matemáticas pouco complexas, pegando pequenas referências para nos ajudar na tomada de decisão. Um exemplo é a diferença entre pagar no dinheiro e no cartão de crédito. No dinheiro, você percebe o recurso acabando. Já no cartão, não. Logo, quando compramos no cartão, tendemos a gastar mais, pois temos a sensação de termos mais dinheiro do que realmente possuímos. Se levarmos essa situação para o consciente, conseguimos entender muito bem quais são os nossos limites. Entretanto, estar consciente é um gasto muito grande de energia para nosso corpo e por isso nem sempre ele está ativado.

Uma outra questão importante é que nosso cérebro valoriza mais as ações de benefício de curto prazo do que de longo prazo. Para nosso lado racional, conseguimos entender que determinadas ações vão nos levar a lugares diferentes. Em contrapartida, o emocional quer saciar suas necessidades no agora.

Dicas Importantes

  • Não compre uma briga com você mesmo. Você irá perder. Em toda a evolução, o cérebro racional foi o último a ser desenvolvido e está longe de estar na linha de prioridade das decisões. Lembre-se que passamos 97,3% de toda nossa existência comemorando cada dia de vida dentro de cavernas.
  • Observe sempre as suas ações que te prejudicam e o que acontece antes, durante e depois de cada uma delas. A autopercepção é o início para mudarmos comportamentos.
  • Faça ações que irão romper com comportamentos indesejados. Se você se descontrola muito nos cartões de crédito, deixe-o mais indisponível possível. Se gasta muito em determinado contexto, determine um orçamento e disponibilize somente a quantia necessária.
  • Cuidado com excessos de autocobrança e de sentimentos de culpa. Se um dia não deu muito certo, não tem problema. No outro dia vai dar certo.
  • Considere ter pessoas para te ajudar. Fazer grandes mudanças sozinho(a) pode ser muito desafiador e desestimulante.

Sobre o autor: Igor é voluntário da Bem Gasto, é consultor de empresas e no tempo livre gosta muito de estar em contato com a natureza e de se conectar com a nossa essência através dos estudos da neurociência.

Deixar uma resposta