Foto de uma nota de cinquenta reais.

Alta taxa SELIC: quais são os impactos na vida dos brasileiros?

Autora: Nanda Abreu

No início desse mês, saiu em todos os jornais e foi divulgado amplamente nas redes sociais, que na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) foi decidido manter a taxa Selic em 13,75% a.a. até o final de 2022 e para o próximo ano é esperado um percentual de 11,25% a.a. Mas, o que isso significa?

Muito ouve se falar sobre a Selic, mas será que você compreende o que ela representa e quais são os impactos no Brasil e na sua vida quando ela sofre variação? Se praticamente todas as discussões sobre economia, finanças ou investimentos estão relacionadas a Selic, já é um forte indício do quanto ela é importante e merece ser estudada e compreendida.

Nesse artigo, explica-se o que é Selic, o que ocasiona a sua variação e quais são os seus impactos. Se você deseja compreender melhor esse tema, esse artigo é para você!

O que é a Selic?

A Selic é a taxa básica de juros da economia brasileira. É a sigla de Sistema Especial de Liquidação e de Custódia, um sistema administrado pelo Banco Central (BC) em que são realizados empréstimos de curtíssimo prazo, com vencimento em apenas um dia, realizados entre as instituições financeiras, que têm títulos públicos federais dados como garantia.

A taxa média registrada nas operações feitas diariamente nesse sistema equivale à taxa Selic efetiva. Mas, além da taxa efetiva, ainda existe a Selic meta, que é uma perspectiva futura da taxa, estimada pelo BC. É sobre a Selic meta que mais se ouve falar no dia a dia, pois o BC opera no mercado de títulos públicos para que a taxa Selic efetiva esteja em linha com a Selic meta.

O que acontece quando ela sofre variação?

A Selic é o principal instrumento de política monetária utilizado pelo BC para controlar a inflação. A sua variação afeta a inflação, o consumo, o crédito, os investimentos, o câmbio, a dívida pública, o PIB, entre outros fatores.

Inflação e o Consumo

A principal estratégia de política monetária é influenciar a quantidade de dinheiro que circula na economia. O objetivo é assegurar a estabilidade econômica e evitar descontroles de preço como os que o país já viveu em décadas passadas, que causam a perda do poder de compra da moeda.

A lógica é quanto mais recursos estiverem disponíveis, maior a tendência das pessoas consumirem e se endividarem. E quando elas aumentam a demanda por produtos e serviços, é natural que os preços subam, assim como a queda da demanda reflete na diminuição dos preços.

Por isso, quando a economia está aquecida e os preços começam a subir a ponto de superar a meta de inflação, a Selic é elevada. Com juros mais altos, o crédito fica mais caro, tanto para os consumidores, como também para as empresas e o próprio governo. Isso desestimula o consumo, há uma redução nas compras e ajuda a controlar os preços.  Já a medida oposta, é tomada em períodos em que a inflação está controlada ou abaixo da meta. Quando a Selic diminui, estimula o consumo e ajuda a aquecer a economia.

No gráfico abaixo podemos ver que em 2020, no auge da pandemia, a Selic chegou a atingir 2% a.a. e cresceu de forma acelerada até 2022.

Atualmente, a meta Selic para 2022 está em 13,75%, que historicamente, representa um patamar elevado da taxa. Esse movimento foi fruto da estratégia do BC para conter a inflação, que acumula alta de 7,17% nos últimos 12 meses. A inflação brasileira aumentou desde o primeiro impacto da pandemia do coronavírus no país, e entre os preços mais sentidos pelos brasileiros, estão os combustíveis, energia e alimentos.

Câmbio

O aumento de juros tem o poder de atrair investidores para o país. Economias emergentes, como a do Brasil, ficam mais interessantes com o crescimento da relação risco-retorno. Assim, juros mais altos ajudam a trazer dinheiro estrangeiro para dentro do país e valorizam o real.

A queda do dólar, por exemplo, freia a inflação em várias frentes. Nos combustíveis, reduz o valor do petróleo no mercado internacional. No preço dos alimentos, ela desestimula a exportação e aumenta o estoque do país. Com o aumento dos estoques internos, amplia-se a oferta e a concorrência, que consequentemente impacta na redução dos preços.

PIB

Com juros mais altos, o crédito fica mais caro e ainda com o aumento da inflação, as empresas tendem a investir menos e a população a retrair o consumo, impactando negativamente o Produto Interno Bruto (PIB), o emprego e a renda.

A estimativa do BC, no relatório de mercado divulgado no início de novembro, é que o PIB cresça 2,76% em 2022, tendo em vista a queda no consumo da população e nos investimentos das empresas, contra um crescimento de 4,6% em 2021.

Dívida pública

O aumento da Selic gera uma maior despesa com juros da dívida pública, que é acompanhada por investidores internacionais para avaliação da confiança no país. O receio do capital internacional aumenta o dólar, enquanto o mercado aguarda uma trajetória de controle da dívida, e a saída de dólares do Brasil eleva a inflação.

Investimentos

A Selic influencia todas as taxas de juros do país, sejam as que um banco cobra ao conceder um empréstimo, sejam as que um investidor recebe ao realizar uma aplicação financeira.

Uma das taxas de juros impactada pela Selic é o CDI. Quem é investidor está habituado a ouvir falar da Selic e da taxa CDI com frequência. Ambas são importantes referências para a rentabilidade das aplicações financeiras, e normalmente, elas caminham muito próximas, isto é, a diferença percentual entre as duas costuma ser muito pequena.

A taxa do CDI significa Certificado de Depósito Interbancário, que representa empréstimos realizados entre instituições financeiras com seus próprios recursos. Os bancos realizam essas operações porque, por lei, precisam encerrar todos os dias com os balanços equilibrados. Significa que diariamente os bancos que tiveram desembolsos de dinheiro, precisam buscar recursos para cobri-los. Muitas vezes, os bancos buscam esses recursos tomando empréstimo de outras instituições financeiras. Esses empréstimos também são de curtíssimo prazo, mas ao contrário das operações que dão origem à Selic, são registrados em outro sistema, que é o da Central de Custódia e Liquidação Financeira de Títulos Privados (Cetip), incorporado à bolsa de valores brasileira (B3) em 2017.

De modo geral, uma elevação da Selic beneficia de imediato os investimentos de renda fixa, que oferecem uma remuneração atrelada a essa taxa. É o caso do Tesouro Selic emitido pelo governo federal, além de títulos atrelados ao CDI como os CDBs emitidos pelos bancos, das letras de crédito, das debêntures, entre outras opções. Da mesma forma, quando a taxa é reduzida, também diminui o retorno deles.

Como no Brasil os juros foram muito altos durante vários anos, os brasileiros se habituaram a ter altos retornos com os títulos de renda fixa. Mas, é preciso estar atento, pois se os juros estiverem altos, mas a inflação também, a rentabilidade real será pequena. Se, em dado momento, a Selic estiver a 13% ao ano e a inflação a 12%, a rentabilidade real será de aproximadamente 1%. Mas, se os juros caírem para 7% ao ano e a inflação para 4%, o investidor terá um maior ganho real de 3%.

Já quando observamos outros tipos de investimentos, como os de renda variável, a análise é diferente. As ações negociadas na bolsa de valores sofrem impacto indireto dos movimentos da Selic. Por exemplo, a Selic mais baixa costuma impulsionar o consumo e os investimentos. Se as pessoas consomem mais, as empresas tendem a vender mais os seus produtos. Se o custo do crédito reduz, isso facilita investimentos para a expansão das empresas ou outros projetos que as permitam crescer.

Com resultados melhores, as ações dessas companhias tendem a distribuir mais dividendos e também a se valorizar. Já quando a Selic aumenta, a atividade econômica em geral acaba retraindo, assim como os resultados das empresas, e todo esse movimento fica prejudicado.

Em linhas gerais, quando a Selic está elevada os investimentos de renda fixa podem se tornar opções mais atraentes, enquanto em períodos de juros baixos a renda variável tende a oferecer melhores retornos.


Sobre a autora: Nanda é voluntária da Bem Gasto, consultora financeira e trabalha com finanças corporativas há mais de 15 anos. Se formou em Ciências Contábeis e concluiu mestrado em Administração e Controladoria. No tempo livre, Nanda gosta de ir à praia e viajar com o marido.

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