Vários maços de dólar preenchendo toda a imagem

Dê ao seu dinheiro uma viagem ao exterior

Autor:  Alexi Atchabahian

Dolarização do patrimônio: Investimentos no exterior e dê ao seu dinheiro uma viagem pra fora do país.

Viajar é uma delícia. Pode ser para algum lugar a 50 quilômetros de onde você está ou para o outro lado do mundo – ainda não conheci alguém que não goste de arrumar uma mala e sair por aí conhecendo um lugar novo.

Agora, já pensou em levar sua grana para viajar? Quem sabe ensinar inglês para ela? Não, não é para colocar o dinheiro em uma mala e literalmente levá-lo para fora do país – a viagem é em sentido figurado. Por favor, não faça isso – é crime!

Vamos na verdade falar sobre uma tendência cada vez mais forte no Brasil, a internacionalização do seu patrimônio.

Por que raios isso é importante?

Olha, consigo dizer que existem dois principais aspectos para pensarmos em internacionalizar parte do patrimônio: (i) riscos de mercado; e (ii) riscos “geográficos”. Essa distinção é importante porque, a depender do meio que você escolher para usufruir desta diversificação, você pode levar somente um deles em consideração e não necessariamente os dois.

Riscos de mercado

Podemos chamar de riscos de mercado aqueles puramente ligados à flutuação de preço dos investimentos. Aqui, a internacionalização é importante porque traz um ou mais níveis de diversificação para sua carteira, seja pela exposição à paridade da moeda relevante (na maioria das vezes o dólar americano – US$) em relação ao real, seja pela possibilidade de contarmos com opções de ativos menos correlacionados com os ativos brasileiros, ou ainda com correlação negativa.

Um parêntese aqui: “O que seria isso de correlação? ” É mais simples do que você pensa e é um conceito muito importante quando se fala de diversificação. Correlação é o nome dado à relação de proporcionalidade entre a flutuação do preço de um ativo e outro ativo. Ainda complicado? Vamos exemplificar para melhor compreensão:

  • Se a ação A sobe 10 e a ação B sobe 7, existe uma correlação positiva entre elas – ambas se movimentam no mesmo sentido, neste caso em proporções altas.
  • Se o título de renda fixa C sobe 10 e a ação D cai 7, existe uma correlação negativa entre elas – ambas se movimentam em sentido contrário, neste caso em proporções altas.
  • Se o fundo multimercado E sobe 10 e o fundo de renda fixa F não sobe de preço, a correlação é zero, ou seja, a variação de preço de um ativo não é proporcional à flutuação do preço do outro.

Voltando às “viagens” da grana: exposição cambial e ativos com correlações baixas, nulas ou negativas podem tornar sua carteira mais resiliente no longo prazo e até diminuir os riscos em geral. Isso porque você adicionará investimentos cujos preços se movem em diferentes sentidos, o que poderá fazer com o que o risco final seja menor. Outro exemplo, se o Brasil entrar em crise, seus ativos em reais provavelmente vão perder valor, ainda mais os de renda variável. Por outro lado, é de se esperar que a cotação do dólar americano suba – ou seja, uma parte da carteira meio que “compensa” a outra, suavizando mais as oscilações de valor da carteira como um todo. Na imagem abaixo podemos observar melhor a importância dessa diversificação:


Carteira ilustrativa doméstica composta por titulos atrelados a infiacão (50%) taxa nominal (25%) crédito (5%). hedge fund estruturados (5%),
Ibovespa (15%) Parcela internacional investidfa em uma estrategia diversificada de indices intemacionais

Fonte: BlackRock, Março/2023.

Investindo fora, além de exposição ao dólar, você pode ter acesso a países com maior participação na economia mundial e a outros setores da economia que não são tão facilmente encontrados para investir no Brasil – a bolsa brasileira, por exemplo, tem pouquíssimas empresas de tecnologia com ativos listados, enquanto as bolsas americanas possuem diversas, possibilitando ao investidor probabilidades de retornos maiores e/ou menos volatilidade a seu favor.

Fonte: J.P. Morgan, Março/2023.

Esta diversificação você consegue “sem sair de casa”, ou seja, investindo em ativos emitidos no Brasil e que te dão exposição internacional. Desde ETFs (fundos de índice negociados em bolsa) que seguem o índice S&P500, Recibos de Depósito de ações e ETFs internacionais (os famosos BDRs), fundos de investimento no exterior… hoje os shoppings de investimento têm muitas opções, sem burocracia adicional de ter de mandar dinheiro para fora, abrir conta em corretoras ou bancos nos EUA, etc. Soluções boas para quem quer diversificar este risco de mercado sem que o dinheiro efetivamente “viaje”.

Por outro lado, se o seu problema não for o risco de mercado

Risco “geográfico”

Não é um termo técnico – eu que inventei… Mas ilustra bem do que estou falando, que é um risco econômico mas não de mercado. O Brasil é um país instável, seja do ponto de vista econômico, seja político (e não partidário – crises e escândalos não são privilégio de uma ala do espectro político). Os mais velhos (que tiveram contas confiscadas lá no Governo Collor) que o digam…

Para as pessoas que querem se proteger deste tipo de risco, deixar seu dinheiro apenas investido em ativos emitidos no Brasil não faz sentido. Se você quer sair do Brasil para sempre, não quer viver no país (o que infelizmente é mais e mais comum) e tem medo desse tipo de situação, é melhor usar as ferramentas para tirar seu dinheiro fisicamente do pátria amada. Não há gráfico de gestor de fundos que te convença que é bom investir em um BDR aqui no Brasil quando teu objetivo é se proteger das coisas ruins alheias ao mercado.

Neste caso, os benefícios são os de proteger parte de seu patrimônio do tipo de acontecimento que falei acima – se o Brasil for para o buraco, você terá parte de seu patrimônio em outro país e pode conseguir recomeçar a vida em outro lugar mais confortavelmente. O custo é a burocracia – há questões mais complexas de abertura de conta,  declaração do Imposto de Renda no Brasil (e eventualmente no outro país), e até inventário e sucessão.

Hoje já existem empresas que oferecem uma simplificação de alguns destes processos complexos com uso da tecnologia, desde contas globais até investimentos (p.ex. Avenue, Inter, Nomad, C6), o que pode te ajudar. Obs.: Esses nomes são apenas alguns exemplos de empresas, mas não recomendações.

Em resumo…

  • Levar parte do seu dinheiro para viajar ao exterior – seja via investimentos no Brasil, ou realmente no exterior – pode trazer benefícios interessantes para sua carteira como um todo.
  • Fique atento ao tipo de risco que você quer se proteger, bem como as vantagens e complexidades de escolher uma ou outra via.
  • Se sua preocupação é só com a flutuação do preço dos ativos e melhorar sua carteira, melhor ficar com alternativas locais (de mais fácil manutenção).
  • Não fique desconfortável com sua carteira de investimentos, se você tem medo de que o país irá entrar em uma recessão profunda, diversifique não só o risco de mercado, mas também o geográfico.

Alexi é voluntário da Bem Gasto, advogado e no tempo livre gosta de estar com a família, ler livros e mangás.

Deixar uma resposta