Entenda os efeitos da inflação na vida do brasileiro

Autor: Rodrigo Gomes de Paula

O IBGE divulgou que, nos últimos 12 meses, a inflação acumulada foi de 10,07%.

Se você faz as despesas da casa ou abastece o carro, reparou que o dinheiro que era usado para isso em 2019 já não é mais suficiente.

Vamos discutir aqui os efeitos da inflação, que vão muito além de preços mais altos.

Inflação

A definição da palavra inflação depende das bases teóricas do economista que a usa. Então há mais de uma definição válida para “inflação”.

Para propósitos deste artigo, entendamos a inflação como “aumento generalizado de preços na economia”. Escolho essa definição simplesmente porque é a mais comumente usada nas mídias.

O aumento de preços é ruim para todos

A inflação desagrada a todos, mas muitos subestimam o quão ruim ela pode ser e o quão longe seus efeitos negativos podem chegar. Quando os preços de alimentos sobem muito, por exemplo, as pessoas — e principalmente os mais pobres — precisam destinar uma parte maior de sua renda total para se alimentar e, portanto, sobra menos dinheiro para bens e serviços “menos essenciais”, como cinema, restaurantes, vestuário, cursos, passeios, viagens etc.

Isso faz com que esses outros setores sofram perdas em seu faturamento. Esse golpe nas receitas das empresas deixa os empresários e empreendedores em uma sinuca de bico:

De um lado, as pessoas estão consumindo menos de seus produtos. Em situações normais, quando uma empresa vende pouco, ela tende a diminuir seus preços para tentar atrair os clientes. Mas em uma situação de inflação como a que temos no Brasil nos últimos tempos, a diminuição de preço não é uma opção, pois os custos das matérias primas dos produtos sobem também.

Ou seja, os custos de produção estão aumentando, portanto as empresas acabam lucrando menos. Então o empresário ou empreendedor não pode baixar os preços para atrair mais clientes. Pelo contrário: ele precisa aumentar os preços mesmo assim para cobrir o aumento dos custos. No entanto, para a grande maioria dos produtos, existe um limite para este aumento de preço. Afinal, você pagaria 5 reais por uma barra de chocolate, talvez até 6 ou 7, dependendo do dia, mas dificilmente pagaria 10, 15, 20 reais por um chocolate qualquer. Portanto, o produtor tem um limite, pois se ele sobe demais o seu preço, ele deixa de vender. Assim, soluções alternativas se fazem necessárias.

As soluções encontradas

Em uma situação apertada dessas, o pior é não fazer nada. Decisões precisam ser tomadas pelos produtores, do padeiro do seu bairro até uma grande empresa fabricante de chocolates. Infelizmente, nenhuma das soluções deixa o cenário favorável para a economia, especialmente para os consumidores.

Reduflação

Reduflação vem de “Shrinkflation”, que é um termo em inglês que significa “inflação encolhedora”.

Como os produtores têm dificuldade para aumentar os preços de seus produtos, uma das soluções é diminuir o tamanho do produto e manter o preço. Isso diminui os custos de fabricação e aumenta o lucro sem precisar repassar maiores preços diretamente ao consumidor.

Essa estratégia é utilizada especialmente para produtos que são vendidos em embalagens, por peso ou unidades, como chocolates, salgadinhos, doces, ovos, lanches etc. Pode olhar: as embalagens de hoje são mais leves e mais caras que as do passado.

Claro, esta é uma solução ruim para o consumidor, que paga a mesma coisa por menos produto. No entanto, essa estratégia é tão desconhecida pelos consumidores que a maioria não nota, pois, normalmente, se presta mais atenção aos preços do que nos pesos e quantidades das embalagens.

A piora dos produtos

Quando os preços não podem ser elevados pelo empresário, uma das soluções para obter custos menores é a diminuição da qualidade do bem produzido.

Em muitos casos, o produtor passa a utilizar materiais piores no processo de produção, pois eles são mais baratos que os materiais de qualidade. Assim, os custos de produção caem, fazendo com que o aumento de preços seja menos necessário.

Por isso, em épocas de inflação elevada, muitos produtos ficam com uma qualidade inferior ao que era, quebrando facilmente e até ficando com gosto pior. Você provavelmente já notou que as bolachas e chocolates mais baratos hoje em dia não são tão saborosos como há alguns anos. Isso não é coisa da sua cabeça e nem um efeito da nostalgia. As coisas realmente estão sendo fabricadas com materiais e ingredientes piores para que os preços não aumentem demais.

Demissões

Essa é uma das soluções mais drásticas e, normalmente, uma das últimas a ser tomada.

Quando os produtores não conseguem aumentar os preços, uma forma de reduzir os custos de produção é demitir funcionários.

Essa estratégia é evitada o máximo possível, pois prejudica muito a longevidade das empresas, que perdem mão-de-obra e encerram operações logísticas e de produção, todos elementos essenciais para uma empresa, e que são difíceis de reconquistar.

Aumento de preço puro

Existem, porém, alguns setores que têm muita dificuldade de aplicar qualquer uma das estratégias mencionadas. Nesses setores onde é muito difícil — e algumas vezes, impossível — diminuir a qualidade, o tamanho do produto ou demitir funcionários. Dois bons exemplos são os açougues e os postos de gasolina.

A única opção para esses empreendimentos é elevar os preços. Em parte, é por isso que os preços da carne e da gasolina são os que mais sobem durante os tempos de inflação.

Veja, a qualidade de uma carne não pode cair, e o peso também não. Um quilo de contra-filé é um quilo de contra-filé. Diferente do que acontece com produtos vendidos em embalagens, não dá pra diminuir o peso ou a qualidade desse tipo de produto sem os consumidores notarem. O mesmo vale para a gasolina.

Mas há algumas considerações

A aplicação dessas estratégias depende completamente do tipo de produto sendo fabricado. Em alguns casos, é possível aplicar todas elas. Vale o exemplo dos chocolates, que têm suas embalagens mais leves e possuem um gosto pior do que antes. Ou seja, os chocolates são vendidos pelo mesmo preço, mas em embalagens que contém um chocolate mais leve e de pior qualidade. O mesmo se aplica ao papel higiênico, por exemplo.

Ressalto, porém , que a intenção dessa observação não é, de forma alguma, culpar empresários ou empreendedores. É importante lembrar que as empresas, empresários e empreendedores também são vítimas da inflação e precisam adotar algumas dessas medidas por questão de sobrevivência. Se as receitas não cobrem os custos, o empresário terá prejuízo e, aí sim, terá de tomar medidas muito drásticas, como demissões em massa ou, nos piores casos, fechar a empresa, o que deixa todos numa situação complicada.

Como se proteger da inflação

Infelizmente não é fácil proteger o seu dinheiro. O poder de compra do seu dinheiro jamais retornará ao que era antes, a inflação do passado já comeu tudo, mas existem formas de diminuir ou até, em alguns casos, anular os efeitos da inflação presente e futura. Tudo envolve economia e investimentos. Ressaltamos que os investimentos abaixo não são indicações. Converse com um profissional para entender melhor e decidir sobre as formas mais apropriadas de proteger seu dinheiro da inflação.

Primeiro, existe um título do governo que paga juros baseado no índice IPCA (o principal índice que mede a inflação no Brasil). Isso significa que o dinheiro que você guardar vai render de acordo com a inflação. Talvez você ainda perca para a inflação real mas, provavelmente, ganhará dos números divulgados pelo governo

Depois, existem fundos imobiliários que têm seus contratos de aluguel atrelados ao IPCA. Ou seja, ao comprar uma cota de um fundo imobiliário, você receberá parte dos aluguéis já ajustados pela inflação. Isso envolve mais do que simplesmente comprar um título num banco, já que as cotas de fundos imobiliários são comercializadas publicamente, ou seja, na bolsa de valores.

Sobre o autorRodrigo é voluntário da Bem Gasto, professor de inglês, tradutor e gosta de estudar economia e programação

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