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Entenda sobre investimentos no exterior e como investir!

Autor: Reynaldo Jose Mazzante Mendes

A maioria dos investidores já deve ter ouvido a frase: “não devemos manter todos os ovos na mesma cesta”. Resumidamente, ela reforça a ideia de termos nosso patrimônio investido em vários ativos e de preferência em várias classes de ativos (Renda Fixa, Fundos, Renda variável)

Porém, é importante também considerarmos a ideia de internacionalização dos investimentos. Afinal, investir em outras economias pode ajudar a potencializar seus ganhos e reduzir seus riscos, principalmente devido ao cenário político e inflação que o Brasil vem sendo exposto nas última décadas.

O PIB (Produto Interno Bruto) do Brasil representa apenas 1% do PIB mundial. Será que não vale a pena investir um pouco do seu patrimônio nos 99% do restante do PIB mundial?

Fonte: Draft-9-24f8.jpg (6000×6000) (howmuch.net)

Outro ponto: já parou para pensar que grande parte do nosso consumo são de empresas de fora do Brasil?  Apple, Microsoft ,P&G, Colgate, Danone, Nintendo, Coca Cola, Samsung, Nestle, Adidas, Netflix, Pirelli, etc.

Inflação Brasil x EUA

A inflação, que é o aumento do preço dos bens e serviços e que reduz nosso poder compra ao longo dos anos, é um fator importante a ser considerado para que você internacionalize parte do seu patrimônio.  Caso você tivesse guardado R$100 (cem reais) desde 1994 embaixo do colchão, hoje você teria cerca de R$18,67. Já se houvesse guardado U$100 (cem dolares), hoje teria U$58,19. 

Termos/siglas que precisamos conhecer

Antes de avançarmos no assunto, vamos tentar balizar o conhecimento para que seja mais fácil absorver o conteúdo que será passado a seguir:

BDR (Brazilian Depositary Receipts): Nesse caso você tem a posse de recibos que representam as ações americanas. Como existe um intermediário fazendo uma ponte e que detém a custódia, existe um preço para isso. Ele vai te cobrar uma parte dos dividendos (distribuição dos lucros feita pela empresa para seus acionistas). Como é um mercado considerado novo, ainda não possui muita liquidez.

Stocks: O termo Stock é usado para se referir as ações negociadas na bolsa americana.

Stock Picking: É fazer a seleção de ações passíveis de valorização acima da média de mercado. Aconselhável para pessoas com nível intermediário /avançado e que entenda muito bem os mercados internacionais. Exige mais tempo para estudo porque o número de empresas é muito maior.

Reits (Real State Investment Trust): são Fundos imobiliários Americanos. Apesar de parecer com os fundos imobiliários brasileiros no conceito, na prática são bem diferentes.

Fundos de Ações internacionaisDe maneira simples, eles são caracterizados por apresentar um percentual significativo de investimentos atrelados ao mercado exterior. A estratégia pode envolver investimentos de diversos ativos, como: renda fixa, ações, derivativos, etc. Por se tratar de um fundo com gestão ativa, ou seja, existe uma pessoa ou grupo de pessoas estudando esse mercado e aplicando a estratégia do fundo, é cobrado uma taxa de administração e dependendo do desempenho, é cobrado uma taxa de performance como forma de bonificar a gestão pelo retorno acima do esperado.

ETF (Exchange Traded Funds):  ETF é um fundo que tem suas cotas negociadas na bolsa de valores e seu comportamento segue algum índice de mercado.  Ele é uma cesta de ativos composto de dezenas, centenas ou até milhares de ações que tem algum tipo de característica comum. Particularmente, vejo como a melhor maneira de se expor no mercado internacional porque você já começa diversificado, é extremamente simples e não precisa ficar se preocupando em escolher empresas. Basicamente, você terá que ler um pouco sobre as regras daquele índice para entender o critério da empresa fazer parte do índice e do seu peso dentro dele.  Nesse caso, você estuda os critérios e caso faça parte da estratégia, pode ter certeza que todas as empresas que compõem o índice tem esse critério em comum.  De tempos em tempos, é feita a reavaliação e rebalanceamento, removendo algumas empresas que deixaram de atender aqueles critérios e inserindo outras.

Principais receios em investir no exterior

A maioria de nós investidores temos um viés cognitivo local, ou seja, temos certo receio de investir em uma outra geografia e é da natureza humana investir naquilo que nos é mais familiar. Os receios mais comuns são:

1) como começar a investir no exterior?

2)  Barreira do Idioma

3) Preciso de muito dinheiro?

4) Quais os Custos de remessa e Taxas envolvidas?

5) e o Imposto de renda?

6)  É Seguro?

Está cada vez mais fácil investir no exterior graças a tecnologia de um mundo altamente conectado e todos esses receios citados anteriormente podem ser facilmente superados. Vamos lá:

  1. Como investir no exterior?

R:   Através de uma corretora brasileira:  temos algumas opções disponíveis para termos uma exposição no exterior, entre elas fundo de renda variável internacional, fundos de renda fixa atrelados ao tesouro americano, ETFs Internacionais e BDR.  Sempre se atente aos custos relacionados a taxa de administração e performance no caso dos fundos.

Através de uma corretora Americana:  Acesso a ações americanas (Stocks), Reits (fundos imobiliários americanos), ETFs de Renda Fixa, ETFs de Renda Variável (Cesta de ativos que segue algum índice).  

Mas então posso fazer aqui do Brasil? E a resposta é:  Claro que pode! Vem aumentando ano a ano nosso leque de opções para investir em outras economias, mas existem algumas diferenças que devemos considerar.  Veja esse exemplo: caso você compre um ETF chamado IVVB11 que é negociado no Brasil e que replica as 500 ações americanas (S&P500) e um outro brasileiro compra IVV que é negociado no EUA e que replica o mesmo índice S&P500, ambos estão expostos ao mercado americano, mas com uma sutil diferença chamada taxa de administração.  O IVVB11 cobra 0,23% de taxa de administração e o IVV cobra 0,03%. Isso mesmo, quase 8x mais!  Isso porque não citei os fundos de investimento internacionais presentes em todas as corretoras brasileiras que cobram taxas em torno de 2 a 3% + taxa de performance.

Pode parecer no primeiro momento uma diferença muito pequena, mas quando projetamos um investimento no longo prazo, as taxas começam a atrapalhar o efeito bola de neve.  No exemplo de investir R$1000 por mês em um ETF de 0,10% de taxa ao ano e investir R$1.000 por mês em um Fundo de ações que tem 2% de taxa + 20% de taxa de performance, ao final de 30 anos, diferença de patrimônio pode ser de 400 mil reais a menos para quem optou em investir em fundo de ações devido as taxas mais altas.

2. Barreira do idioma

R: Como consequência dessa busca mais frequente por investimentos internacionais, surgiram algumas corretoras (Exemplo: Avenue e Passfolio) para atender o público brasileiro.  Entre os benefícios estão o site e atendimento ao cliente em português.  Já conheci outras corretoras americanas como Charles Schwab que possui equipe de interpretes para ajudar na comunicação.  Enfim, o idioma já deixou de ser uma barreira. Obs.: As empresas citadas não se tratam de recomendação; são apenas exemplos.

3. Preciso de muito dinheiro

R:  Não. Várias corretoras americanas oferecem o benefício de negociar valores fracionados de uma ação / ETF, ou seja, podemos comprar uma fração de 0,0001 de uma ação da Apple por exemplo.  Isso permite que por menos de 10 dólares, você possa comprar um pedacinho de algumas empresas. 

4. Custos de remessa e Taxas envolvidas

R: Algumas corretoras já permitem que seja feito o câmbio integrado pela própria plataforma, ou seja, você faz uma TED ou PIX em Reais e pela própria plataforma você já converte o dinheiro para dólar.  Antes de escolher sua corretora, olhe para os custos dessa conversão (Spread Cambial), custos relacionados a repatriação (que nada mais é que trazer o dinheiro de volta) e custos relacionados a transferência de custódia, caso deseje futuramente mudar de corretora.

Já os custos referente a corretagem (taxa cobrada para ordem de compra ou venda), existem muitas corretoras americanas que não cobram essa taxa, mas limitam a uma certa quantidade de ordens por mês.

5. Imposto de renda

R:  Ao abrir uma conta na corretora, você é obrigado a assinar um termo onde consta o formulário W-8BEN que atesta que você não é residente fiscal nos EUA e que permite o recolhimento de imposto dos rendimentos na fonte.  As corretoras Avenue e Passfolio, as quais citei antes, já te entregam relatórios de apoio do IR que facilitam no momento da sua declaração. Um benefício que você vai gostar de saber, é referente a isenção de imposto em caso de venda até o limite de 35 mil reais /mês.  No caso de comprar BDRs aqui no Brasil, no momento da venda, você precisará pagar imposto de 15% sobre o ganho de capital (GC).

Fonte: ResumoIMpostos.png (640×492) (aposenteaos40.org)

6. É Seguro?

R: Sim, desde que escolha sempre corretoras que fazem parte da FINRA ( Financial Regulatory Authority) , que regulamenta o mercado financeiro americano  e do SIPC que protege o investidor caso a corretora vá a falência. Mas e as Gestoras dos ETFS? Será que são confiáveis?  A Black Rock, maior gestora do mundo, tem 8.6 Trilhões de Dólares sob sua Gestão, ou seja, mais que 2 vezes o PIB do Brasil. Já outra Gestora chamada Vanguard tem cerca de 7 Trilhões de Dólares sob Gestão. Obs.: As empresas citadas não se tratam de recomendação; são apenas exemplos.

E os outros mercados no mundo?

Imagino que você esteja perguntando o motivo de ser citado apenas o mercado americano.  Simplesmente porque é um mercado muito aberto e lhe permite ter acesso a mais de 5000 ações e mais de 2.000 ETFS Globais. Por exemplo: caso deseje investir na Itália, você pode comprar uma cesta de ações do ETF chamado “EWI”, que é negociado no mercado americano, mas que replica o mercado de ações italiano (26 ações). Já se você acredita e deseja investir na China, pode comprar o “MCHI” que é um ETF que replica o índice de ações chinesas (631 ações chinesas), mas também negociado no mercado americano.  No meu último exemplo, vou citar um ETF chamado QQQ, também negociado no EUA e seu índice segue 100 ações listadas na NASDAQ (uma das Bolsas de valores americanas onde estão grandes empresas de tecnologia). Comprando esse ETF, basicamente você está se expondo em tecnologia em sua grande parte (Microsoft, Apple, Amazon, Tesla, NVIDIA, Google, Netflix). Percebeu a flexibilidade dos ETFs?  Se por acaso desejar investir em empresas apenas Small Caps de qualidade, haverá um ETF americano para isso; agora se você desejar comprar apenas empresas consideradas baratas, também haverá um ETF para isso. 

Como você pode perceber, um investidor deve estar sempre em busca de novas formas de diversificar e proteger seu capital. Por isso, ao se perguntar ”por que investir no exterior”, tenha em mente que essa é uma estratégia que pode conferir um maior nível de segurança aos seus investimentos com boas taxas de retorno. Contudo, é preciso se planejar e conhecer bem as opções disponíveis atualmente para realizar uma escolha adequada com o seu perfil de investidor.

Sobre o autor: Reynaldo é voluntário da Bem Gasto e analista de Projetos de TI e Inovação. No tempo livre, gosta de frequentar pubs e viajar.

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